Esses dias eu estava conversando com João Henrique, meu filho, e fiz uma observação: “a mãe acha que o mundo gira por causa dela”, e ele riu e disse: “só que é verdade” (risos).
Isso lembra Bukko. “Quando tinha 17 anos decidi estudar o budismo e propus terminar os estudos em um ano, não pude fazê-lo. Outro ano ainda, e depois 3 subsequentes sem conseguir nenhum progresso. Uma noite me encontrava sentado com meus olhos bem abertos e de repente o som de uma pancada contra a mesa em frente à habitação do monge superior chegou até meus ouvidos e revelou instantaneamente o homem original em minha integridade”. Lembra aquilo que eu falei: você pratica, pratica, como se estivesse na beira do abismo e de repente um pequeno sopro pode fazer você pular, cair.
“Então, não retive nada mais da visão que havia tido ao fechar os olhos, abandonei meu assento precipitadamente e corri na noite, sob o luar. E cheguei em um jardim contíguo a uma casa chamada Ganki, onde olhando o céu ri estrepitosamente: ‘oh, que grande é o Dharmakaya! Quão grande é, imenso, eternamente’. Meu gozo não conheceu limites, não podia mais sentar-me no recinto de meditação e me lancei entre as montanhas sem fim determinado, caminhando de um lugar a outro. Pensava no sol e na lua, atravessar um dia, um espaço de milhões de milhas de profundidade. Logo pensei, os raios de meus olhos devem viajar tão rapidamente como os do sol. Meus olhos, minha mente são o próprio Dharmakaya? E meditando dessa maneira senti que todas as amarras que me haviam atado durante longos anos, se destruíam e caiam em pedaços. Durante quantos incalculáveis anos havia estado sentado em um formigueiro? Hoje, no vazio de meus cabelos, residem todos os Budas. E pensei: ‘e ainda não experimentei o grande satori’. Sou agora o mestre de mim mesmo.”.
Eu reli para nós relembrarmos que, na nossa linhagem, nós acreditamos que a iluminação é possível agora para todas as pessoas. O Zen é uma escola instantaneísta, é uma escola que diz que a iluminação está disponível hoje, neste sesshin (retiro). Esse despertar está possível, embora nós leiamos sobre os mestres que se esforçam durante anos e anos, e só então de repente conseguem. Sendo que grande parte do tempo em que estão tentando, sentem-se frustrados como se jamais fossem chegar lá. Parece só uma promessa, um aceno, mas do outro lado vemos também as pessoas narrarem pequenas mudanças em si mesmas e nas suas perspectivas, que embora pequenas criam enorme intervalo entre você e os outros. É muito frequente que os praticantes venham relatar o distanciamento que ocorre entre eles e os outros à medida que começam a compreender coisas. Isso pode acontecer até com crianças.
Continua
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]