Aluno: Falando sobre paixão, já é difícil levantar cedo todo dia para tentar ter um salário mais ou menos. A pessoa almeja ganhar mais, é um objetivo para ela. Ter um objetivo é o que permite que essa pessoa siga batalhando e lutando…
Monge Genshô: é que você colocou tudo no objetivo individual, tudo com foco no indivíduo. Como dizia Adam Smith, na obra “Riqueza das Nações”: a soma dos pequenos egoísmos individuais leva à riqueza da nação. Porque você luta para ganhar mais para você, o outro faz o mesmo, e nós temos a riqueza da nação. Mas a pergunta moral é: é lícito que eu execute um ato, que eu aja de uma determinada maneira? Você tem de se perguntar: se todas as pessoas agissem como eu, fizessem isto, o que aconteceria? É uma pergunta lógica… Vamos supor que todos se tornassem monges, quisessem mendigar comida e não trabalhar mais, o que aconteceria? Colapso total. Isso só é possível então, a existência de monges (que, do ponto de vista econômico, são parasitas), se a sociedade tiver riquezas suficientes para sustentar essa parasitagem. E este sempre foi o problema do surgimento de instituições religiosas, em toda a história da humanidade, porque ela depende de excedente. Só quando há excedente alimentar que você consegue alimentar o xamã da tribo… senão, ele vai ter que sair atrás de comida também.
O que quero dizer é: a análise da assertiva “é preciso haver uma ambição para que eu me mova” é, em verdade: “é preciso haver uma ambição para que eu me mova a mim mesmo, porque eu quero alguma coisa para mim”. Mas não é obrigatório que a sociedade se mova desta forma. Você também pode se mover sabendo que o bem comum exige isso também. E aí há pressão social para tanto. Não se vê muito bem isso num país como o nosso.
Mas no Japão, por exemplo, que veio de uma cultura que proveio do cultivo do arroz (o cultivo do arroz tem uma característica, qual seja: não se planta ele sozinho), tem que todo mundo estar envolvido no cultivo do arroz, precisa de uma multidão de pessoas trabalhando. Então toda a sociedade funciona com uma cobrança de que você não pode ficar parado, você tem que agir para o bem comum. Não se joga lixo na rua, porque todas as pessoas estão olhando e não toleram que você faça isso. Fato interessante: serviço público de coleta de lixo na rua é muito restrito. Isso é um encargo de todas as pessoas. Por isso quando teve aqui campeonato de futebol e o pessoal aqui viu os japoneses limpando o estádio depois do jogo (isso é a conduta padrão no Japão), logo os brasileiros começaram a fazer a observação de que o problema do Brasil estaria resolvido: era só cada um levar um japonês. Você enxerga que a sociedade não precisa funcionar com estímulos absolutamente individuais, mas ela também tem estímulos de cobrança coletivos que também podem acontecer. Então, voltando ao que você perguntou, você se moveria sim, porque senão o resto da sociedade viria para chutar a sua cama: você não pode ficar sentado aí enquanto nós precisamos plantar para você comer.