Pergunta: Até quando praticar o desapego, se desvencilhar da matéria, até quando
isso pode ser feito? Isso não é uma visão extrema?
Genshō Sensei: O budismo é o caminho do meio. Buda praticou o ascetismo, fez
jejum até quase morrer e chegou à conclusão de que isso era bobagem. O caminho do
meio é um caminho moderado: há muita coisa boa no mundo e você deve aproveitar.
Hoje de manhã aqui em Goiânia tomei um bom café da manhã, tomei suco de uva, comi
pão, etc., que mal há nisso? Nenhum mal. Dizemos “comer é a alegria do zen”. Tempos
atrás eu estava em Maringá e um rapaz perguntou numa palestra: “Monge, e o sexo?
como budismo vê o desejo sexual?”, então perguntei a ele: “o que você faz quando tem
fome?”. Ele disse: “como”. Naturalmente ele come. Então qual é o problema com o
sexo? Funciona da mesma maneira, não existe problema, nós é que inventamos
problemas ou colocamos pecado nas coisas. A definição de budismo para “erro” é
causar sofrimento. Se você causa sofrimento, então pare, não cause sofrimento de
nenhuma forma. Se você causa felicidade, estima, coisas positivas então está bem.
É claro que alguém que resolve seguir um caminho ascético pode seguir um caminho de
abstinência, tanto em alimentação, quanto em sexualidade, mas mortificar-se, por
exemplo, não existe no budismo. Colocar arame farpado em volta do corpo, ou
chicotear-se, tudo isso não existe no budismo; seriam atitudes encaradas como absurdas
no comportamento budista. O comportamento budista é o da moderação: não exagere.
Eu, por exemplo, gosto de vinho, mas uma garrafa de vinho dura três refeições lá em
casa, isso porque divido com minha esposa e cada um toma uma taça, porque ficar tonto
não pode, mas aproveitar para uma refeição é uma boa ideia. Essa é a maneira como o
zen budismo encara as coisas.