Algumas pessoas já disseram coisas como: “se Deus não existe tudo é permitido”. Isso é um erro de avaliação da questão ética. Não é assim, eu não preciso de um Deus me castigando por um ato meu para compreender que meu ato é errado e para me arrepender dele. Quer dizer que se não houvesse um Deus, eu não me arrependeria de matar alguém, de maltratar alguém, de destruir algo, eu preciso de um “pai” para que eu me sinta culpado? E se ele não existir, então eu posso fazer qualquer coisa? É assim?
A ética no budismo não é construída em cima do medo e nem do prêmio. Você constrói sua ética por seu sentimento de responsabilidade e por sua compaixão com os outros seres. É porque você sente compaixão que você não faz isso, é porque você respeita que você não faz. Essa ética tornou-se muito mais ampla porque é muito maior do que regras: ela abrange criticar qualquer ato seu, afinal de contas, por exemplo, a regra sobre sexualidade no budismo diz que não devemos usar nossa sexualidade de forma a causar sofrimento. Isso é muito amplo, porque se você apenas seduz alguém com um olhar e depois despreza, só de brincadeira, isso é causar sofrimento e já é muito errado. Você não tem licença de usar sua beleza para causar sofrimento, sua fascinação para causar sofrimento. Qualquer ato que causa sofrimento aos outros é errado, não importa a desculpa que você ache para fazê-lo. Então, a ética para o budismo é construída em outras bases, não é construída nas bases de prêmios e castigo, mas sim de responsabilidade, de sentimento em relação aos outros, de empatia, de compaixão, e isso quer dizer não somente com os outros seres humanos, mas todos os seres que podem sofrer. Esse treinamento acaba levando as coisas para níveis muito mais sofisticados de conduta.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]