Quando o Dr. Ravindra Panth diz em seu artigo que sila, samadhi e pañña *não* constituem a contribuição peculiar do Buddha à humanidade, isso abre, imediatamente uma ponderação muito interessante. Isso porque, leitores mais superficiais, e mesmo apressados, dos ensinamentos buddhistas estão acostumados a considerar essa tríade como fundamental. No entanto, ainda que fundamental, a afirmação acima nos leva a indagar: ‘Qual, então, é a contribuição única do Buddha?’; ‘O que Ele realmente ensinou de diferente em relação ao que já existia, permitindo que doravante as pessoas se referissem ao seu ensinamento como algo diferenciado?’
Outra idéia que se deduz de tal afirmação é que sila, samadhi e pañña já existiam, pelo menos numa certa forma, anteriormente à chegada do Buddha no cenário espiritual da Índia. Alguns, por exemplo, não se conformam com a idéia de que a meditação já existia antes do Buddha, ou que a meditação buddhista tenha origem nas antigas tradições hindus, até afirmando que não existiriam registros a respeito. Entretanto, o Dr. Panth diz que: “Existem, também, outras referências que mostram que o conceito e a prática do samādhi também não era algo novo; era conhecido na época como um método de aquietar e controlar a mente. O melhor exemplo disso é o do bodhisatta Siddhattha Gotama que, antes da sua iluminação, aprendeu os mais profundos samādhis conhecidos na época – o sétimo e oitavo jhānas – dos professores Ālara Kālama e Uddhaka Ramaputta. Isto prova que o âmbito do samādhi certamente existia anteriormente ao Buddha. Isso não era algo novo, descoberto por ele”.
E ainda que nem sempre seja fácil ter uma idéia precisa das técnicas envolvidas, dizer que não é possível afirmar uma origem da meditação buddhista nas antigas práticas anteriores ao Buddha parece uma afirmação sem qualquer embasamento histórico, similar a dizer que a prática meditativa foi algo absolutamente novo trazido pelo Buddha. Diante da pergunta: “(A meditação buddhista) É a mesma meditação que encontro no Yoga Hindu ou em outras religiões?”, o site do CBB responde: “Historicamente, a Meditação (em sânscrito, Dhyana) como técnica específica tem origem nas antigas tradições hinduístas”, ratificando aquilo dito pelo Dr. Panth e pelos vários historiadores que já se debruçaram sobre o assunto. Dizer que algo tem origem, entretanto, não significa que esse algo é idêntico. Eu tenho origem em meus pais, mas obviamente não sou idêntico a eles. Lacan tem suas origens no pensamento freudiano, mas obviamente não são idênticos. Daí que a partir desse ponto o site do CBB esclarece a meditação buddhista “conforme a abordagem derivada dos conceitos espirituais demonstrados por Buddha e já apresentada em suas características buddhistas particulares”.
Alguns poderiam ficar surpresos ao ver o termo sânscrito “Dhyana” ser usado aqui para a meditação. Etimologicamente, o termo sânscrito “dhyana” está conectado ao termo pali “jhana”, o que leva pessoas que não conhecem o sânscrito ou o contexto filosófico do uso desses termos a pensar, enganosamente, que dhyana é idêntico a jhana! Isso é comum ocorrer com estudos superficiais com relação ao Buddhismo, que acabam achando que dhyana é igual a jhana, dhyana é igual a samatha ou samatha é igual a samadhi, e assim por diante, numa verdadeira confusão de palavras e significados.
(Comentários do Professor do Dharma Ricardo Sasaki em seu blog, Folhas no Caminho (link ao lado) )