Comentários em lista aberta budista, de Emerson Zamprogno, sobre texto de Ken Wilber:
“Pelo que entendi o problema surge quando os conceitos budistas são contaminados pela idéia replicadora verde perversa (“mean green meme”). A cor, no caso, se refere a um determinado padrão de valores.
Para abreviar a conversa sem ter que citar o artigo inteiro, um budista contaminado pelo meme verde reivindicaria ser igualitário, pluralista, não-marginalizante, anti-estágio, e especialmente
anti-hierarquia.
Desta maneira ele rejeita tanto a relação professor – discípulo quanto o próprio conceito de um ser que possa ser iluminado e outros não, uma vez que isso implicaria em assumir que o iluminado seria superior e quem não é seria inferior. Portanto é uma idéia politicamente incorreta e que assim deve ser evitada.
A ameaça que o Wilber enxerga nesse processo é que esta última conclusão simplesmente acaba com a própria razão de ser do Budismo.
Agora o meu comentário. Pessoalmente acho que interpretações “patológicas” dos Ensinamentos já existiam antes dos modernos “memes perversos” começarem a se espalhar e que os mestres já estavam cientes disso muito antes de existir Wilber ou os conceitos da psicologia integral. As antologias zen estão repletas dessas histórias também!
E existem professores modernos que descrevem muito bem essas interpretações exatamente como “doenças do zen”. A mestra Heila é uma professora que tem histórias muito interessantes a este respeito, que não convém mencionar no momento para não me alongar ainda mais.
Mas para nos mantermos no clássico, mesmo no Sutra da Plataforma do Sexto Patriarca Hui-neng (o mestre analfabeto), ele declara claramente que existem pessoas que ele chama de “apegadas ao vazio”.
Descreve-as como pessoas que em geral desprezam as palavras e não respeitam as hierarquias (já que “tudo é vazio”). Mas ele afirma no Sutra que mesmo a célebre frase “não depender das palavras” que os apegados ao vazio usam para justificar suas blasfêmias, são também palavras. Assim, então por que eles não as deixam de lado de vez em quando?”