Em que nos concentramos no zazen?

Em que nos concentramos no zazen?

Se EU ficar concentrado, como é que me libertarei deste EU? Se há alguém observando quem é este que observa? Como nos libertaremos do eu se estamos reforçando-o lhe dando um papel?
Eis porque o zazen não tem foco nem concentração em nada, porque isto serve como âncora para um eu se solidificar.
Naturalmente, no início da prática várias técnicas são usadas para ajudar a obter estabilidade, tais como contar respirações, no entanto este ainda não é o zazen propriamente dito. Abaixo um texto de 750 anos atrás explica melhor. (Atualmente o termo Hinayana não é mais usado por não haver mais nenhuma escola sobrevivente a que ele possa ser aplicado, a palavra Hinayana reflete um conflito existente 2000 anos atrás entre diferentes propostas de prática budistas. Dogen indica também que o zen não se enquadra como método Mahayana )
“Dogen Zenji (1200-1253) diz no Eihei-koroku (Coleção Formal de Discursos e Poemas de Dogen Zenji), vol.5: “Em nosso zazen, é de fundamental importância sentar-se na postura correta. A seguir, regular a respiração e se acalmar. Na Hinayana, há duas formas básicas (para a prática do iniciante): uma é contar as respirações, e a outra é contemplar a impureza (do corpo). Em outras palavras, um praticante Hinayana regula sua respiração ao contá-la. A prática dos budas e ancestrais, porém, é completamente diferente da prática Hinayana. Um mestre ancestral disse: ‘É melhor ter a mente de uma raposa enganosa do que seguir o caminho de auto-controle Hinayana’. Duas das escolas Hinayana (praticadas) no Japão hoje são a Shibunritsu (a escola dos preceitos) e a Kusha (a escola baseada no Abhidharma-kosa).
Existe também a maneira Mahayana para regular a respiração. E essa é saber que uma respiração longa é longa, e que uma curta é curta. A respiração atinge o tanden e se inicia ali. Apesar da inalação e da exalação serem diferentes, ambas passam pelo tanden. Quando você respira através do abdômem, é fácil perceber a transitoriedade (da vida), e harmonizar a mente.
Meu falecido mestre Tendo disse: ‘O ar inspirado atinge o tanden; porém, não é que esse ar venha de algum lugar. Por esse motivo, ele não é curto, nem longo. O ar exalado sai do tanden; porém, não é possível dizer para onde esse ar vai. Por esse motivo, ele não é longo, nem curto’. Meu professor explicou dessa forma, e se alguém me perguntasse como fazer para harmonizar a repiração, eu responderia dessa maneira: apesar de não ser Mahayana, é diferente da Hinayana; e apesar de não ser Hinayana, é diferente da Mahayana. E se eu fosse questionado mais além em relação ao que é em última instância, eu responderia que inalar ou exalar não são nem longos, nem curtos.”
Mais detalhes no site oficial da Soto Zen aqui