Reinos


“As existências no reino do desejo vão desde os reinos mais miseráveis – os reinos infernais – até os primeiros reinos dos deuses; todos estes estados estão sob o controle do desejo.
Além do reino do desejo, há o reino da forma sutil, que inclui uma hierarquia de dezessete níveis divinos sucessivos. Os seres nestes estados têm uma forma sutil e corpos extremamente grandes, luminosos; suas mentes conhecem poucas paixões, poucos pensamentos; e eles desfrutam de uma felicidade incrível. A paixão predominante é o orgulho sutil – os seres destes reinos acham que atingiram algo superior e vivem um tipo de auto-satisfação.
Estes estados do reino da forma correspondem aos quatro níveis de concentração meditativa, caracterizados pela transcendência progressiva da investigação, da análise, da alegria e do êxtase.
Finalmente, além até mesmo deste quatro níveis de concentração do reino da forma, pode haver o nascimento no reino sem forma. Os seres do reino sem forma não experienciam qualquer sofrimento severo e virtualmente não têm quaisquer paixões; eles permanecem apenas em uma forma extremamente sutil. A impureza que permanece em suas mentes é um tipo de estagnação mental que impede a realização da natureza última da mente. No reino sem forma, a mente tem acesso a quatro estados sucessivos de consciência; absorção do espaço infinito, absorção da consciência infinita, absorção do nada, e absorção nem da diferenciação nem da não-diferenciação.
Os deuses do reino sem forma têm o sentimento de possuir um corpo, mas este corpo é imperceptível. Eles têm apenas o quinto agregado da individualidade – a consciência – ainda presente como uma ignorância sutil que lhes dá um sentimento de existir neste corpo sem forma. Esta consciência finalmente age como uma mãe que novamente dá a luz aos outros agregados.
Deste modo, os deuses do reino sem forma retornam aos reinos inferiores.
Para ser livre do samsara, a consciência em si deve ser definitivamente transformada na sabedoria primordial, a sabedoria da iluminação.

Estes oito estados dos reinos da forma e sem forma pertencem a uma mente positiva, não-distraída; seus estágios sucessivos são progressivamente livres do apego. Todos estes estados dos seis reinos do samsara são transitórios e condicionados: todos eles são parte da roda do samsara.
Apesar de os deuses dos reinos da forma e sem forma terem poucas formas severas de sofrimento, eles ainda estão sujeitos à morte e à transmigração.
Eles não têm o poder de permanecer em sua condição divina e sofrem, tendo de renascer em um reino inferior.
Se acharmos difícil aceitar a noção destes diferentes reinos, vamos simplesmente lembrar que a experiência de cada um é a sua realidade. Quando estamos sonhando, nossos sonhos tornam-se a nossa realidade, e acontece o mesmo com os seis reinos. Por exemplo, água pode ser experienciada de maneiras muito diferentes: para os seres do inferno, ela causa tortura; para os fantasmas famintos, é o que desejam desesperadamente; para alguns animais, é o meio necessário para a vida; para as pessoas, é uma bebida; para os deuses invejosos, é uma arma; e para os deuses, é um néctar sublime.
As profundezas do oceano são o habitat natural dos peixes, mas os humanos não podem viver lá. Os pássaros voam no céu, mas isto é impossível para o corpo humano. As pessoas que são cegas não podem ir aonde querem, enquanto aqueles que têm a visão normal podem se mover livremente por aí. Cada um vive em seu próprio mundo ou reino, sem perceber o dos outros.
Então, o samsara é composto por três reinos: o reino do desejo, o reino da forma e o reino sem forma. Todas as possibilidades da existência condicionada estão incluídas neles.
Tornando-nos conscientes de que todos os seres sofrem neste ciclo de existência, nos inspiraremos a nos liberarmos da ignorância e da delusão onde estamos imersos, a nos libertarmos do samsara, que é um oceano de sofrimento, e a nos esforçarmos para atingir a felicidade suprema do estado búddhico perfeito.
No passado, tivemos incontáveis nascimentos na existência cíclica. Hoje, somos seres humanos; se usarmos este oportunidade sabiamente, poderá ser o ponto de partida para a nossa liberação.”
Texto Tibetano, fonte: Shunya