Mensageiros celestiais

Mensageiros celestiais

Todos sabem que o coração precisa de amparo espiritual em momentos de dificuldade. A crise é um convite para o espírito, não apenas na infância, mas sempre que a vida passa pelo sofrimento. Para muitos mestres, o portão para o espiritual se abriu quando a perda ou o desespero, o sofrimento ou a confusão os levou a buscar consolo para o coração, a buscar uma totalidade escondida. A longa viagem de um professor começou já na vida adulta, em outro país.

“Eu estava em Hong Kong. Meu casamento ia mal, fazia dois anos que minha filha mais nova tinha morrido ainda bebê e, no geral, eu não estava feliz. De volta à América, vi um anúncio de aulas de tai chi na Stanford Business School. Inscrevi-me e a prática começou a acalmar meu corpo, mas meu coração continuou triste e confuso. Separei-me da minha mulher e experimentei várias formas de meditação para me acalmar.

Então, uma amiga me apresentou a seu professor de meditação, que me convidou para um retiro. A sala era formal e silenciosa e ficamos sentados por várias horas. Na segunda manhã, de repente me vi jogando uma pá de terra vermelha no túmulo da minha filha. Vieram as lágrimas e soltei um gemido. Aos sussurros, os outros alunos me mandaram calar a boca, mas o mestre pediu que ficassem quietos e me abraçou.

Chorei durante a manhã inteira, cheio de dor. Foi assim que começou. Agora, 30 anos depois, sou eu que abraço os que choram.”

O encontro com o sofrimento que leva à procura de uma resposta é uma história universal. O príncipe Sidarta, o futuro Buda, vivia isolado em belos palácios, protegido de todos os problemas pelo pai. Finalmente, quis sair para ver o mundo. Percorrendo o reino de carruagem, na companhia do cocheiro Channa, viu três cenas que o chocaram profundamente. Primeiro viu um velho curvado e frágil, andando com dificuldade. Depois viu um homem gravemente doente, atendido pelos amigos. Depois viu um cadáver. A cada vez, perguntou ao cocheiro: “Com quem essas coisas acontecem?” E todas as vezes Channa respondeu: “Com todo o mundo, senhor”.

Essas visões são chamadas de “Mensageiros Celestiais”, pois assim como despertaram o Buda, elas nos fazem lembrar de buscar a liberação, de buscar a liberdade espiritual nesta vida.

Jack Kornfield