“No buddhismo Zen há um ritual para se entrar no caminho de Buddha.
Consiste em expressar o arrependimento informal, em buscar refúgio no tesouro triplo e em jurar praticar os três preceitos coletivos puros e os dez preceitos proibitivos. Esse ritual baseia-se na idéia de arrependimento, que significa, no buddhismo, total abertura de coração. se nos abrirmos completamente, consciente ou
inconscientemente, estamos prontos para ouvir a voz silenciosa do universo. […]
No ritual de arrependimento informal, cantam-se os seguintes versos:
“Todo o karma negativo continuamente criado por mim desde os tempos antigos, por meio da cobiça, da raiva e da auto-ilusão que não tem princípio, nascido de meu corpo, de minha fala e de minha mente, agora eu o confesso, com toda a sinceridade.” No buddhismo, arrependimento não significa pedir desculpas a alguém por algum erro ou engano. O arrependimento não é um estágio preliminar para entrar no mundo de Buddha ou para se tornar uma boa pessoa.
Se o arrependimento for interpretado desse modo, caímos, simplesmente, na armadilha do dualismo; uma grande lacuna é criada entre nós e o objeto, seja ele qual for, de que estamos tentando nos arrepender, e isso sempre causará certa confusão. A paz verdadeira não pode ser encontrada no dualismo.
No buddhismo, arrependimento significa nós mesmos nos deixarmos conduzir para estarmos presentes bem no centro da paz e da harmonia.
Ele é a abertura total de nosso coração, que nos permite ouvir a voz dos limites de irradiação de nossa consciência. O próprio arrependimento torna nossa vida perfeitamente pacífica. […]
O tesouro triplo – “busco refúgio no Buddha, busco refúgio no Dharma,
busco refúgio na Sangha” – é a base dos preceitos buddhistas. Os preceitos, no buddhismo, não são um código moral que alguém ou alguma coisa exterior a nós mesmos nos obriga a seguir. Os preceitos são a natureza de Buddha.
[…]
Os três preceitos coletivos puros, abstenção de tudo o que é mau, de tudo o que é bom, purificação da mente, são os ensinamentos de todos os buddhas.
As duas primeiras normas, abster-se de tudo o que é mau e praticar tudo o que é bom, são preceitos. A terceira norma, purificação da mente, consiste em ter fé sincera no tesouro triplo. Buscar refúgio no Buddha, no Dharma e na sangha significa purificar a mente. […]
Os dez preceitos proibitivos são: abstenção de tirar a vida; abstenção do roubo; abstenção do adultério; abstenção da mentira; abstenção do tóxico; abstenção da fala enganosa; abstenção do auto-elogio por meio da calúnia contra os outros; abstenção da avareza na outorga do Dharma; abstenção da ira; abstenção de injúria contra o tesouro triplo.”
(Dainin Katagiri, Retornando ao Silêncio)