P. Não devemos dar oportunidade a certas situações para não sermos arrastados por elas. Mas às vezes a oportunidade não pede licença, é invasora. O que fazer?
Monge Genshô: Como no texto de Uchiyama Roshi pode-se evitar uma situação de escolha, posso evitar um filme de vingança. Agora se estamos numa situação na vida em que isto aparece inevitavelmente vamos ter que saber lidar com esta situação com a melhor mente que possível e a melhor mente é a mente que identifica. Eu estou com raiva. De onde vem a minha raiva? Ela vem da minha mente. Não é esta pessoa, mas é a minha mente que produz este sentimento. Os sentimentos são muito poderosos, sentimento de raiva, de ciúme, de inveja. Todos estes sentimentos podem surgir. Se nós deixamos ou cultivamos, eles tomam conta de nós. Por isto treinamos na almofada sentados de frente para a parede porque quando eles surgem, a pessoa não está ali, nós só imaginamos aquela pessoa de que nós não gostamos. Aí ela surge e aí é a nossa oportunidade de transformar, identificar este sentimento na minha mente. Eu vou voltar para aqui agora, só para a minha respiração. Não vou julgar. Foi bom, ruim que isto acontecesse, não vou lutar contra a minha mente, não vou tentar substituir este pensamento por um pensamento bondoso. Não vou fazer isto. Vou voltar para a realidade última, agora, sem raciocínio e não vou me sentir culpado por isto que surgiu. Simplesmente descartar, deixar cair. Assim praticamos no Soto. Existem outras formas de prática no budismo, viáveis também, de visualizaçâo, de treinamento em sentimentos bons. Elas também são funcionais, mas não são a prática do Soto Zen. Praticamos descartando, nos livrando. Não criamos outras coisas. Uma prática difícil, mas bem efetiva.