O mundo dos deuses e a Ilha de Caras

O mundo dos deuses e a Ilha de Caras

Grupo de aprendizado de meditação na Montanha Encantada

Como vocês viram, no próprio Sermão de Tettsugen, o nosso verdadeiro obstáculo, a raiz de todos os problemas que nós temos é a noção de um eu. de uma identidade própria e de estarmos separados de tudo. Nós perdemos a nossa consciência de pertencermos à mente infinita. Na realidade nós adquirimos a consciência da nossa manifestação pessoal porque ela é complexa, inteligente, uma coisa magnífica e uma grande oportunidade – a oportunidade de ser um ser humano, essa mesma condição maravilhosa, invejada pelos deuses, porque no budismo nós dizemos que os deuses estariam melhor sendo homens porque sendo homens é mais fácil escapar dos ciclos de manifestação, porque ser deus também é uma manifestação. Os deuses também surgem e também morrem, então eles também estão sujeitos a impermanência. E os mundos paradisíacos, maravilhosos que muitas pessoas ambicionam através da prática de méritos, da prática de boas ações, eles realmente existem. Se alguém agir virtuosamente, fizer muitas coisas boas, a sua próxima manifestação em vez de ser no mundo da forma pode ser num mundo sem forma, num mundo divinal cheio de prazer e felicidade durante muito, muito tempo.

Os devas, como nós dizemos os deuses no budismo, não são o que nós costumamos pensar como deuses. São manifestações, em outras dimensões que não essa, mas manifestações de grande mérito. Se nós saímos daqui com méritos maravilhosos nós realmente caímos num paraíso. Nos manifestamos como seres num mundo maravilhoso e cheio de coisas boas durante muito, muito tempo. O problema é que é durante muito tempo, mas não é para sempre, porque os méritos também se esgotam. Assim como os maus karmas se esgotam, os bons karmas também se esgotam, e os deuses decaem e morrem e têm que se manifestar de novo porque são produzidos por  karmas e assim se manifestam num mundo inferior ao mundo dos deuses. Algumas pessoas que nós conhecemos são deuses decaídos. Isso é para dizer que os deuses também estão iludidos com a noção de eu, também tem consciência, também estão perdidos mas eles não conseguem aprender o Dharma porque é muito difícil se interessar no Dharma numa situação sem sofrimento.

Os que têm vidas maravilhosas não procuram o Dharma. Aqueles que estão mergulhados em profundos e permanentes prazeres, e pulam de prazer para prazer sem cessar, vão à Ilha de Caras, mas não sentem sofrimento suficiente para encontrar o Dharma e tentar escapar da prisão de ter um eu. Pelo contrário, ficam com “eus” muito fortes, muito grandes. Nós podemos dizer que o treinamento budista é um método para a liberação. Sendo um método para a liberação mesmo essas coisas que eu falei aqui-agora não precisam ser acreditadas podem ser tomadas simplesmente como similares da vida, fazendo símiles como os freqüentadores da Ilha de Caras, e com os habitantes de mundos infernais onde há guerra, tortura, ódio sem parar, sofrimento sem parar, como a imagem que temos no Iraque hoje em que dois grupos tentam ganhar o poder fazendo terror um contra o outro e matando todos, explodindo gente com aquelas cenas de sofrimento imenso quando seus filhos são explodidos por uma bomba só porque tem a religião errada, só porque ou um é sunita o outro é xiita. ou os cristãos do outro lado do mundo que tem suas idéias de como deve ser um país e tentam impô-las com armas, bombas, fuzis, soldados e fracassam porque nos mundos infernais não se consegue resolver problemas com força, violência e ódio. Eles só aumentam. A única maneira de fazer o ódio cessar é com amor.

(Trecho de palestra de Monge Genshô)