O EU separado de tudo

O EU separado de tudo

Poucos dias atrás eu vi um vídeo com um pequeno trecho de uma palestra de Thich Nhât Hanh. Vou reproduzir as idéias que ele expôs. É um vídeo bem curto.
Naquela pequena aula ele disse: “Minha mão direita escreve poemas. Minha mão esquerda não escreve poemas. No entanto, minha mão direita não menospreza nem diminui a mão esquerda dizendo: “Eu sou melhor que você”. Ela não tem complexo de superioridade com relação à mão esquerda. Nem a mão esquerda tem complexo de inferioridade com relação a minha mão direita. Há algum tempo eu estava pregando um prego na parede, e bati com o martelo no dedo da mão esquerda. Imediatamente, as duas largaram o que estavam fazendo e a mão direita segurou a mão esquerda para cuidar dela carinhosamente. Minha mão direita não disse: “Estou cuidando de você agora que você esta machucada, lembre-se, no futuro se acontecer alguma coisa você cuida de mim, não seja mal agradecida”. Minha mão esquerda não disse: “Você me feriu, dê-me o martelo, eu quero vingança”. Porque minha mão direita e minha mão esquerda, se sentem unas. Sentem-se em uma unidade. Sentem-se uma junto à outra em tudo. Não sentem inveja, nem sentimentos de cobrança, nem sentimentos de vingança, nem superioridade nem inferioridade.”
Nós somos, na verdade, mãos da grande unidade de todos os seres. E quando nos sentimos melhores ou piores, ou queremos justiça, ou compensações, é porque nós não vemos isso, porque começamos a ver a noção de eu dentro da mão. Se a mão direita sentisse “eu sou”, ela teria esses sentimentos. O mesmo ocorreria se a mão esquerda tivesse esse sentimento de “Eu sou, eu sou separada” – elas são separadas, não são? Fisicamente são separadas, mas não existe o sentimento “eu sou separada”. Por isso uma cuida da outra, não pedem compensação, por isso uma não pede vingança à outra. O que existe nas nossas duas mãos, é uma noção dentro da nossa mente de unidade; ambas se referem à mesma mente, ambas se comunicam com a mesma mente e por isso não se sentem separadas, embora o estejam fisicamente.
 Mas nós aqui nos sentimos realmente separados. Não sentimos que pertencemos a uma grande unidade. Sentimo-nos sós. Quantas vezes vocês já ouviram a frase “é possível estar sozinho dentro de uma multidão”? Na verdade, a iluminação significa o abandono de todo eu, então é impossível estar só daí em diante. É impossível sentir solidão. É impossível ter quaisquer desses sentimentos de que estávamos falando antes – superioridade, inferioridade, vingança, justiça. Qualquer coisa assim é impossível se houver percepção da nossa verdadeira natureza. Numa palestra, há algum tempo, eu disse que o eu possui ganchos, ganchos nos quais nós penduramos coisas – conceitos, nomes, cargos, títulos, noções de superioridade, inferioridade, raça, espécie. Eu sou homem, os outros seres não são homens. Aqueles que não são homens eu posso matar, não tem importância, eles não são da minha espécie.
(continua)