Pergunta – Com relação ao “eu”, eu o elimino ou me desapego dele?
Monge Genshô – O “eu” é necessário nessa vida, você o usa como um instrumento. Uma boa imagem para entender isso é a de que precisamos usar uma fantasia para exercer um papel. Eu, por exemplo, coloco minhas roupas de monge, que carregadas de simbolismo – um manto igual ao manto de Buda – me facilitam o exercício do papel de professor do dharma. Mas, quando tiro essa roupa, não posso dizer que estou ali, naquela fantasia que tirei. Eu não sou a fantasia; ela não é eu. Nosso “eu” é, essencialmente, uma fantasia. Nós precisamos usar, na vida, títulos, cargos, coisas, nomes. Mas não devemos nos confundir com nosso nome. Seu nome não é você. Seu título não é você. Por isso é tão difícil responder a essa pergunta: “quem é você realmente?” Nós precisamos de um “eu”, mas o “eu” que usamos para transitar na vida, não é quem somos, é uma fantasia. Começa no batizado, o pai diz, “o nome dele será Fulano”, e recebemos um nome que arrastamos pelo resto da vida. Mas esse nome foi-nos, tão somente, dado por nossos pais. Ele não nos constitui. “Quem é você?” Quando fazemos essa pergunta a uma pessoa, ela responde, em primeiro lugar, seu nome, pois foi essa a primeira coisa que lhe deram. Mas essa pessoa não é só um nome. Certa vez, um homem chegou até Buda e lhe perguntou: “quem é você? Um profeta, um deus, um salvador? Quem é você, afinal?” Ele respondeu que não era nenhum deles, e afirmou: “Eu estou acordado!”
Pergunta – Esta é, na verdade, uma resposta conceitual, não é?
Monge Genshô – Sim.
Aluno – Desculpe, não entendi a resposta.
Monge Genshô – Ao dizer que está acordado, Buda afirma que não possui nenhum “eu”, que está livre de todas as ilusões, que isso tudo é um sonho. Estar acordado significa, portanto, estar livre dos sonhos.
Pergunta – Isso quer dizer que Buda entendeu sua essência?
Monte Genshô – Sim. E sua essência não é ele.