Aluno – Eu queria entender a diferença entre esse estado de iluminação e o estado de adormecimento. Porque esse estado de iluminação, teoricamente, seria um estágio onde nada ocorre, onde a mente está obliterada, mas…
Monge Genshô – Eu acredito que essa visão não seja bem correta. Não se trata de uma obliteração da mente, em absoluto. Trata-se de um estado em que você tem clareza, ou seja, você pensa, raciocina e age, mas com clareza. Você vê claramente o resultado de suas ações, porque deve agir de determinada forma e toma decisões com clareza. A diferença da mente iluminada para a mente deludida é a clareza. Quando alguém está iluminado, sabe o que deve fazer, quando, como e de que maneira, sempre, límpidamente. Mas não significa que não aja no mundo, que não fale, que não lhe ocorram pensamentos; o que acontece é que estes não o levam de um lado para outro. Não é que não lhe surgem pensamentos, é que nenhum pensamento o arrasta. Se nós nos sentarmos e ficarmos com a mente completamente vazia, sem nenhum pensamento, Hui Neng, famoso mestre Zen do século sete depois de Cristo, chamaria isso de quietismo, e ficaria furioso. Vou lhes contar uma pequena historia Zen. Um monge chegou num mosteiro de um grande mestre Zen e pediu, “O senhor pode me ensinar, pode me aceitar?” “Pode ser – disse o mestre. “O que você já fez?” “Já treinei muito meditação, vou lhe mostrar”. Sentou-se rapidamente em posição de lótus com as pernas cruzadas e entrou, em segundos, em profundo samadhi. O mestre pegou um bastão e começou a surrá-lo expulsando-o do mosteiro e dizendo:”Budas de pedra já tenho muitos, nesse mosteiro”. Portanto, não é isso que é desejável, a libertação não é apagar-se, não é morrer, é outra coisa completamente diversa disso. A libertação tem dentro de si a ação, mas ação iluminada.