Pergunta – Uma coisa em que eu penso muito é sobre o consumo da carne. Não é mais somente uma coisa de propaganda. Antes eu pensava que era um hábito de família. Mas se formos observar a pirâmide alimentar dos nutricionistas, a base é carne e derivados de animais. Se for ao médico, ele lhe dirá para comer carne. Meu pai, por exemplo, ficou anos sem comer carne, então teve um problema de saúde, e o médico o assustou tanto, que ele voltou a comer carne. Existe algo além da mídia, é algo da ciência mesmo.
Monge Genshô – O que existe é um sistema de crenças, e ele irá variar. Por exemplo, nós sabemos que nos mosteiros Zen budistas, desde o tempo da China – ou seja, há mil e quatrocentos anos – se desenvolveu uma cozinha vegetariana, porque não se podia matar nos mosteiros e na China a mendicância era proibida. O resultado final dessa cultura é que no Japão, por exemplo, o consumo de carne de mamíferos é uma coisa recente, tem apenas cento e poucos anos. Antes disso, comer carne era uma coisa absurda. Comiam bastante peixe, mas jamais carne de caça ou de bois e porcos. O resultado disso foi a longevidade; a tradição nos mosteiros Zen é de longevidade com lucidez, e dificilmente você vê alguém gordo, pois ali comem muitos vegetais e grãos. Mas um monge pode aceitar carne se lhe é oferecida, não pode aceitar que alguém se proponha a matar um animal com o fim de alimenta-lo, esta proibição vem desde o Vinaya (código de regras monásticas) mais antigo.
Aluno – Acho que já está na hora do meio científico começar a divulgar isso…
Monge Genshô – Eu acredito que já haja algumas correntes que fazem esse trabalho.
Aluno – Parece que todo o modelo de consumo leva para a carne, não existe um financiamento de pesquisa contra o consumo de carne.
Monge Genshô – Porque nas faculdades é ensinado assim, há um lobby industrial forte, mas existem outras correntes que questionam isso, já temos literatura a esse respeito. O máximo que posso oferecer é meu exemplo pessoal: não como carne há mais de sessenta anos, meu pai era vegetariano, fui criado numa casa onde até o cachorro era vegetariano, pois naquela época não se dava ração e ele comia o resto da nossa comida. E lembro que quando viajávamos e deixávamos o cachorro com minha avó, quando voltávamos, ele estava gordo. O cachorro pode viver sem carne, mas é essencialmente carnívoro. Sua arcada dentária é completamente diferente da nossa, por exemplo, que é semelhante à dos macacos frugívoros. Não temos dentadura típica de um animal carnívoro; nossa mandíbula é diferente também com movimentos laterais. Mas o budismo não está focado nessa questão, não é necessário ser vegetariano ou vegano se você é budista.