Os preceitos budistas, que são tomados no jukai, (cerimônia dos votos em que os praticantes recebem o rakussu), parecem cheios de nãos e tem a marca da virtude, característica do primeiro passo do caminho espiritual. Uma parte deles, que resume tudo, diz, “fazer o bem, evitar o mal e seguir o caminho de Buda”.
Vamos explorar essas três pequenas frases. O que seria o bem? Onde está o bem? O que seria o mal? E onde está o mal? Se nós penetrarmos profundamente nessa questão ficaremos confusos, porque aquilo que a uns parece o bem a outros parece o mal, e algumas pessoas crêem que ao fazer o mal, estariam praticando o bem. Crêem por exemplo que, um extermínio poderia ser bom, ou crêem que se fizerem determinada coisa ela irá gerar um bem automático, e muitas vezes quando pensam que estão fazendo o bem podem criar uma tragédia. Afinal o que é ser bom, o que é ser mau?
Na antiga União Soviética havia um grande lago. Esse lago, ao qual chegavam alguns rios importantes, chamava-se Mar de Aral. Mar com peixes, pesqueiros e cidades à beira, tão grande que tinha o nome de mar. Um projeto governamental resolveu irrigar terras com os rios que chegavam ao mar de Aral. O mar tornou-se salgado através de milhões de anos, porque a água que ali chegava tinha pequena quantidade de sal, mas com a evaporação o sal ia se concentrando, dessa forma transformou-se num mar como qualquer dos mares. Os projetos de irrigação foram criados para produção de grande quantidade de algodão e outras plantas, foi bem sucedido e começou-se logo a colher. Mas o Mar de Aral não recebia mais a água dos rios e começou a encolher, descer. As cidades a beira do Mar de Aral, que tinham barcos pesqueiros, perderam seus portos e a medida que o Mar recuava através dos anos, foi deixando atrás de si uma terra coberta de sal. O sol secou o sal, tempestades de vento começaram a espalha-lo nas plantações e um enorme desastre ecológico aconteceu na região em volta do Mar do Aral, porque algumas pessoas pensaram que fariam o bem. Hoje, foram desbloqueadas as barreiras para que parte dos rios voltem ao Mar de Aral, dessa forma, uma parte voltou a ter água. Está se tentando reverter o que se fez no passado.
Nosso país todo é um exemplo disso também, da mata Atlântica sobre talvez sete por cento. Com o objetivo de uso da madeira, criar plantações e pastos, a mata foi aos poucos sendo devastada. E todo o tempo parecia que isso era o bem. Podemos listar infinitas histórias parecidas nas nossas próprias vidas. Então quando o preceito diz, “Faça o bem”, devemos perguntar, “Exatamente o que é o bem?”. O bem seria não produzir sofrimento a longo prazo e estimando todas as conseqüências? Temos que compreender que é muito difícil definir o que é o bem. O mal também tem muitos aspectos. Há uma história budista que diz; – um jacaré come um pato numa lagoa, onde está o bem e onde está o mal? Para o pato uma tragédia, para o jacaré foi uma refeição, decida você onde está o bem e onde está o mal.
(continua)