Hoje andamos na praia e vimos os restos de conchas, milhões de restos de conchas. Andamos em cima deles ouvindo-os crepitarem. Alguém se entristeceu pelas mortes dos habitantes das conchas? Não, porque sabemos que surgem constantemente moluscos que habitam as conchas, quando morrem seus restos chegarão à praia e viram parte integrante da areia, é o fluxo normal desse mundo, sempre surgindo e desaparecendo, mas o que está atrás é a dimensão suprema, resta que olhemos para nós mesmos e percebamos que esta noção de eu que nós temos, que surge quando estamos sentados em zazen ( meditação zen) através do fluxo dos pensamentos, é pura ilusão, um sonho, e por estarmos sonhando o sonho de nossos pensamentos, sonhamos uma existência particular. Mergulhados nesse sonho tão nítido deixamos de perceber nossa dimensão suprema e nossa dimensão suprema é como a dos moluscos, dos ventos e das ondas, sempre surgindo e desaparecendo, não há nenhum eu nela.
Nós não existimos por nós mesmos, também somos movimento, se percebermos que somos movimentos, treinamos sentados em zazen não cogitar mais, parar esse fluxo e refletir o universo em volta com a perfeição de um espelho que não critica ou julga, que não pensa “o que surge na minha frente é bonito ou feio”, o espelho somente reflete sem nenhuma consideração. Sentados em zazen, sem qualquer consideração, ouvimos o pássaro cantar e refletimos, nós somos este fenômeno.