Pergunta: O senhor sempre fala sobre o Dharma, eu gostaria de tentar entender o que é o Dharma.
Monge Genshô – Nós temos três jóias no Budismo. O Buda, o Dharma e a Sangha. Temos uma cerimônia em que tomamos refúgio nessas três jóias. Tomar refúgio é como retornar e abrigar-se nas jóias. Buda não é uma pessoa, um Deus ou um salvador, Buda é essencialmente uma idéia, a idéia de que todos podemos acordar como Sidharta Gautama Shakyamuni acordou. Quando ele fez isto foi chamado de Buda, “aquele que despertou”. Todos os homens estão sonhando sonhos de ilusões, se acordam de suas ilusões, livram-se de seus sofrimentos. Sentimentos comuns como, por exemplo, ciúmes, por que ele existe? Porque somos apegados, inseguros, porque queremos possuir pessoas ou coisas, então surge esse sentimento que é, em essência, egoísta, que nasce da noção de um “eu” e este “eu” é a ilusão mais importante. É deste “eu” que Buda se livrou, acordou, livrando-se dos apegos. Esta é então a primeira jóia. Refugiar-se no Buda significa abrigar-se nessa idéia e confiar que mesmo sendo um ser imperfeito e cheio de problemas, apegos e paixões, pode-se despertar com a prática correta.
A segunda jóia é o Dharma, que significa “a lei” ou “doutrina”. Quando digo que me refugio no Dharma, estou afirmando que busco nos ensinamentos, minha libertação. Se sofro, é porque não compreendi corretamente os ensinamentos. Talvez intelectualmente os tenha entendido, mas não os levei até meu coração. Se conseguir entender o Dharma com minha mente e intelecto e através da prática, esforço e meditação me modificar, então realmente eu realizo o Dharma. Realizar no sentido de tornar real o Dharma dentro de mim, incorporar ou entender profundamente. Incorporar o Dharma é torná-lo real dentro de si e modificar-se. Se eu conseguir abdicar de meu egoísmo, por exemplo, o sofrimento que provém do ciúme desaparece.
A terceira jóia é a Sangha, que é a comunidade. A prática sem a comunidade é muito difícil. Tentar aprender sem um professor é muito problemático e um grande sinal de vaidade, nem Buda treinou sem professor. Antes de se iluminar ele teve vários professores. É freqüente escutar pessoas dizendo que não necessitam de professores ou instituição, que sozinhos e com leituras e estudos alcançarão a iluminação. Se fosse tão simples, não haveria necessidade de treinadores esportivos ou professores de música, não existe nenhum exemplo de pessoas que se desenvolveram em qualquer setor que seja sem um professor em algum momento. Podemos até superar nossos professores, mas no início precisamos de um guia. Precisamos que alguém que nos ajude, corrija e interprete nossas idéias, senão corremos o risco de ficar batendo a cabeça com pensamentos errados. Em mil novecentos e setenta e três eu conheci o Dharma, isso já faz quarenta anos e ainda hoje eu tenho um professor a quem apresento minhas dúvidas e perguntas. Tenho ciência de minha dependência de seus ensinamentos e em razão disso tenho medo que ele morra, pois seria o mesmo que perder um pai. Não vejo quando poderei prescindir de alguém para me ensinar o Dharma. É extrema vaidade pensar que sozinho sou suficiente, é uma grande tolice. Na sangha nós nos apoiamos, ensinamos uns aos outros e incomodamos uns aos outros. Quando alguém faz algo errado, é nosso mestre de tolerância. Quando alguém é chato, é nosso mestre de paciência. Se alguém diz uma bobagem, é nossa oportunidade de olhá-lo como um sábio. A sangha precisa de um professor, se não houver um professor autorizado e responsável é um clube de meditação e não uma Sangha.