Pergunta: Se aceitarmos que existe o inconsciente, o zazen pode ser uma porta de abertura para ele?
Monge Genshô – Ele é, mas no Zen não falamos em consciente e inconsciente, falamos em “mente”, mas por que no Zen nunca se dividiu a mente em consciente e inconsciente? Porque qualquer praticante senta e o inconsciente surge. Surge tudo, seus sonhos e desejos mais básicos e não há ninguém para enganar. Não existe um terapeuta a quem enganar, você de frente para a parede, vai mentir para quem? O pensamento está surgindo na sua mente e é seu, você programou sua mente, você alimentou esse tipo de pensamento e colocou essas coisas lá dentro, por isso elas surgem.
Tudo que surge na sua mente é o retrato de quem você é. Por isso não existem santos e quando aparece alguém com ar de santidade, dizemos que “o monge tem um mau cheiro de santidade”. No Zen não queremos santos, desejamos pessoas despertas e as pessoas despertas naturalmente se comportam de maneira diferente. Como sentamos e vemos nosso lado ruim surgindo não acreditamos em nossa santidade. Por isso um professor do Zen senta junto e no mesmo nível de seus alunos, porque quando alguém lhe disser que sente raiva, sua resposta será: “eu também, sou exatamente igual a você”. “Mas nunca vi o senhor com raiva”. “Bom isso é outra coisa, mas a raiva está dentro de mim, eu só não coloco água nela, não deixo que se manifeste, nem penso nela e, se por acaso ela surgir, eu coloco no lugar um sentimento de compaixão fazendo com que ela perca a força. Mas dentro de mim existe este sentimento, por isso sei o que você sente”.