Hoje à noite recitaremos o Sutra do Coração em português. Ele é o “Sutra do Coração da Sabedoria”. O que ele diz é que a forma – nós somos forma – é o vazio. O vazio se manifesta como forma. Não existe uma entidade que chamamos “o vazio” não existe uma entidade além da forma, o grande ser é vazio de um si mesmo. O vazio é a qualidade de todas as coisas serem vazias de um “eu”. Lemos “vazios de um eu”, tudo em volta são formas, tudo é vazio de um “eu”, tudo é uno. Não existe em cima ou embaixo, direita ou esquerda, surgimento ou cessação, tudo é simultaneamente vazio e forma, porque o vazio só se manifesta como forma e as formas, somos o próprio vazio. Não existe propriamente uma intenção, um plano ou uma história; simplesmente todo tempo está contido em um único ponto, passado e futuro estão contidos em um presente e esse presente é a única coisa que podemos realmente agarrar a cada instante que se esvai. Se você conseguir mergulhar no presente plenamente, você é dono de passado e futuro e, se esquecer de si mesmo pode abarcar o universo inteiro. Como diz o Sutra, aquele que atinge isso, a perfeita e completa iluminação, livra-se instantaneamente de toda dor e sofrimento. Esse é o texto que recitamos, toda dor e sofrimento desaparecem se você esquecer a ilusão do “eu”, mergulhar no presente e abarcar todo o vazio com todas as suas manifestações.
Entendendo, nada está separado, você e todas as coisas são uma única coisa. Os pássaros lá fora são você. Os sons são você. As árvores são você. O riacho é você. Você não é você. Você é tudo isso, só está perdido nesse instante pensando que você é você, abrindo os olhos e vendo tudo separado. Mas esse fenômeno que vivemos ao abrirmos os olhos e vermos tudo, que é como se fôssemos um pequeno olho, um pequeno senso do universo que permite ter uma grande experiência. Essa grande, maravilhosa e complexa experiência que nós como seres humanos temos, é linda, não pode ser desperdiçada, uma fantástica oportunidade que permite ouvir, cheirar, olhar e provar. Essa experiência maravilhosa é o dom da vida. Mas ela é um instrumento para um passo maior. Nós podemos atingir uma consciência maior e, ao atingi-la, não seremos mais pequenas ondas na superfície do universo, mas nos perceberemos como o próprio mar. Nós mergulhamos no mar das paixões, mar das angústias, sensações, amores, todas as paixões. Porque o Bodhisattva mergulha no mar das paixões, ele pode colher as pérolas do fundo. É através dos caminhos equivocados que o Bodhisattva encontra as jóias da vida. Não se perturbem porque mergulharam no mar das paixões, essa é a grande oportunidade para encontrar as pérolas.