Pergunta – Essa história dos carmas que passam para as próximas vidas eu consigo entender claramente, mas ainda é difícil para mim, entender essa questão do budismo não ver o indivíduo se repetir em outras vidas, como que uma coisa se relaciona com a outra? Sei que na outra vida não serei eu, mas a essência é a mesma.
Monge Genshô – Sim. Mas isso pode acontecer agora. Vamos supor que você, Glenda, é sozinha e está fazendo uma viagem em outro país, sofre um acidente e perde completamente a memória. A Glenda não existe mais na sua mente, mas naquela localidade onde você foi encontrada sem memória você é aceita, as pessoas cuidam de você, lhe dão um emprego e como você não se lembra de seu nome eles à chamam de Bárbara. Você não se lembra de sua vida pregressa, a vida da Glenda, mas ainda tem os mesmos desejos e apegos. Você é Bárbara. Tirando somente a memória, existe Glenda ou existe Bárbara? Glenda não existe mais. Todos na sua vida de Glenda pensam que você morreu. Podemos ou não dizer que é mesmo “eu”? Para que você diga “eu Glenda”, precisa ter memórias de Glenda. Após dez anos de Bárbara você só tem memórias de Bárbara, amigos de Bárbara, novo marido, filhos, toda uma nova história, agora de Bárbara. É uma continuação da Glenda, mas o “eu” é outro. Por falar nisso, agora você é Glenda, qual era seu nome na sua vida passada? Não lembra, não é? O nosso “eu” é uma construção, quando nascemos não sabemos qual nosso nome, aos poucos vamos sendo ensinados, aprendemos nosso nome e o nome de nossos pais. Qual a diferença entre uma história e outra? Praticamente nenhuma. Na história você é Bárbara porque não tem as memórias de Glenda e agora você é Glenda, pois não tem as memórias de sua vida passada.