2) E com relação a dor física, doenças, onde se enquadraria dor física? No sofrimento talvez?
Monge Genshô – Não, esse não é um sofrimento mental. Esse é um sofrimento que surge da condição humana, da causalidade. Mas não necessariamente você tem uma culpa para surgir um sofrimento físico, o simples fato de sermos seres humanos fará com que tenhamos doenças, dor e desconforto. Isso faz parte do nosso carma de termos nascidos seres humanos. Algumas pessoas são mais felizes nesse aspecto, mesmo crianças que têm doenças dolorosas, quando olhamos não conseguimos ver nenhuma justificativa para isso. As pessoas que crêem em Deus se revoltam com Deus, questionando -“Mas por quê Deus faz isso?”. Se você imaginar que a criança surgiu agora e que não existe nenhum passado, você não encontrará explicações. Mas se olharmos todas as vidas como longas continuidades, todos teremos carma para muito sofrimento, pois atrás de nós há muitas vidas e com certeza muitas coisas erradas foram feitas.
Mas com relação à dor física, se você desenvolver uma mente altamente disciplinada, é possível diminuí-la consideravelmente. Ignorá-la a ponto de não sentí-la. Tornar-se um com a dor é um treinamento que pode ser feito no próprio zazen. Todos sentimos dor no zazen, é o momento de pensar: a dor existe, mas não é minha, é só uma dor. Já viram aquelas imagens de monges se auto imolando em posição de zazen? Na época da guerra do Vietnã, muitos monges atearam fogo em seus corpos para derrubar o governo que estava perseguindo o budismo. Algumas pessoas perguntam, em razão desses atos, se o budismo apóia o suicídio. Nesse caso não se trata de suicídio. Trata-se de um ato de sacrifício em nome de milhares de pessoas. É diferente. Quando estiverem fazendo zazen e sentirem dores, podem imaginar que é possível queimar seu corpo em zazen sem se mexer.