5) O senhor poderia falar um pouco mais sobre as reencarnações de Buda?
Monge Genshô – Lembrem-se que no budismo não usamos a palavra reencarnação. Eu prefiro as “manifestações do carma” que formaram Buda. Temos muitas histórias, muitas delas infantis, bem como alguns sutras que narram as vidas passadas de Buda. Vidas passadas é uma explicação fácil, na verdade cada vida dessas teve um “eu” que nasceu, morreu e esqueceu, permanecendo apenas uma onda de impulsos e desejos. Uma onda cármica com uma personalidade que se manifesta em um novo corpo que ele mesmo, na sua condição histórica, no país e família diz para si mesmo: “eu sou”. É uma vida passada, mas não é o mesmo “eu”.
Numa vida passada eu era uma pessoa muito agressiva. Me lembro bem de uma ocasião em que peguei dois homens bêbados que entraram no escritório que eu trabalhava insultaram uma funcionária e os joguei escada abaixo, nessa época eu praticava karatê. Me lembro também de ter chutado a porta de um carro porque o motorista não parou para eu passar na faixa de pedestre. Nessa atual vida passada, meu nome era Petrucio Chalegre. Passados alguns anos de prática do Zen, recebi o nome de Genshô e nessa nova vida e personalidade é inimaginável que eu chute portas de carros ou jogue pessoas escada abaixo. Agradeço essa oportunidade de, numa mesma vida, mudar de nome e personalidade. Somos capazes de mudar nossas vidas e dessa forma mudar nosso carma.
6) Dá para dizer então que nas manifestações anteriores de Buda ele tenha sido um bodhisattva?
Monge Genshô – Em alguns sutras ele diz, “Em uma vida passada quando eu ainda era um bodhisattva…”. A prostração que fazemos ao colocarmos as mãos com as palmas voltadas para cima ao lado do rosto é uma alusão à uma história de Buda. Conta-se que numa vida passada havia um buda chamado “Buda Dipankara” e este vinha caminhando quando se deparou com uma poça de lama, um jovem então agachou-se e encostou a testa no chão elevando suas mãos com as palmas voltadas para cima ao lado do rosto para que o Buda pudesse apoiar-se nele e atravessar a poça. O Buda Dipankara voltou-se para o jovem e disse: “Daqui a quinhentas vidas você será um buda”. Esse jovem era Sidharta Gautama. Essa é a lenda da prostração e quando a fazemos, é para que Buda caminhe sobre nós para ajudar os outros seres, somos pontes para os passos de Buda. É interessante a ligação entre todos os conceitos das religiões, por exemplo, o Papa Católico é chamado Pontífice, que significa construtor de pontes. No caso deles, construir pontes entre os homens e a divindade.