(Continuação)
As guerras só existem porque os homens acreditam nelas, e acreditam na maldade do outro. Eu não vou dizer que essa maldade não exista, mas o que a sustenta é a crença na identidade. Se não houvesse crença nas identidades, não haveriam guerras. Não precisaríamos temer os outros, bastaria esquecer que somos diferentes. As identidades de raça, de religião, xiitas, sunitas, cristãos, basta as esquecer e as guerras terminariam. Se entrarmos em guerra contra a Argentina, e houver invasões, essa guerra só existiria porque acreditamos que somos brasileiros e eles acreditam que são argentinos, o que é absolutamente tolo, não tem sentido nenhum. A guerra das Malvinas foi assim, entre Argentina e Inglaterra, “eu quero essas ilhas”. E a Inglaterra não queria ter seu orgulho desafiado e a Argentina queria possuir aquelas ilhas, e, por causa disso, morreram centenas de pessoas inutilmente, por pura vaidade e orgulho. Absolutamente desnecessário.
Mesmo se nós entrarmos nas religiões e mesmo no Zen, vamos ver pessoas que dizem “meu aluno”, “meu grupo”. Monges que caem nessas armadilhas, “minha escola”, “minha linhagem”, não é? Isso é bobagem, completa tolice, porque não pode existir um “minha” aqui neste mundo, nem um “meu”. É inútil. Competição sem sentido.
Então na realidade, temos que concordar com o outro. Ah, ele acha que tem o “Deus verdadeiro”. Ah, sim. Qual é a resposta budista se alguém diz “meu Deus é verdadeiro”? A resposta budista é: “Ah sim, na minha terra tem muito isto de Deus verdadeiro.” “Não, mas o MEU Deus é verdadeiro”. “Ah, aqui no budismo também ocorre isto de o NOSSO é verdadeiro.” “Não mas o meu é o ÚNICO verdadeiro”. “Ah, nós também temos muitos deuses ÚNICOS e verdadeiros.” Até o interlocutor achar que está falando com um louco não é? “Você é louco”. “É, realmente, às vezes me sinto assim mesmo. Não tem problema.” E fim. (continua)