Peço desculpas, mas não vou desejar bom ano novo. Não irei desejar um ano novo ruim, tampouco.
Vou ficar aqui, à espera, olhando o sol passar pelo dia e a lua surgir no horizonte para anunciar a noite.
Mais um dia irá passar, e sua passagem será o início do resto de nossas vidas.
Não irei comemorar um novo ano. Pois, de fato, o que faz um ano se tornar velho e outro ser um horizonte de desejos e anseios? A cada dia, um ano inteiro se passou e novo ano começa. Portanto, por que esperar que um dia – um mero e comum dia – seja mais significativo do que todos os outros?
Diz o meste zen Eihen Dogen: “se há uma separação da mera espessura de um fio de cabelo entre o céu e a terra, então é como o infinito abismo a separa-los”. Da mesma forma, se há uma separação de um décimo de segundo, então é como o golfo da eternidade a separar o passado e o futuro.
Não, não irei separar nada! Não irei criar a ilusão de uma distância, o conflito de uma diferença entre o ontem e o amanhã.
Vou continuar. Vou assumir que ainda não realizei objetivos, mas que já conquistei muito em mim mesmo; que perdi entes queridos, mas que ainda abrigo em meu coração o mérito de possuir bons amigos e belos amores.
Vou admitir que estou envelhecendo, mas que aprendi a rir e celebrar como as crianças; que estou amadurecendo em discernimento e consciência, mas que também esqueci de confiar mais na sutil sabedoria implícita em minhas próprias ignorâncias; que acertei muito, mas que também errei bastante.
Entre o céu e a terra, se há a distância de um fio de cabelo, é como um infinito abismo de separação. Entre um ano passado e um ano futuro, se existe a divisão de um mero segundo, é como se eu jamais fosse íntegro em minha história de vida.
O tempo é o rio do Tao, e nossa vida segue una enquanto vivemos. Não se prenda ao passado; não anseie o futuro. Assuma, corajosamente, o seu AGORA. Não crie sonhos para um tempo depois. Aja, agora, sem guardar promessas vazias.
Entre o Ontem e o Amanhã, mesmo que haja a lacuna de um mero segundo, o Hoje permanece.
Celebre o Agora. E, sem ansiar por se tornar outra pessoa em um futuro vazio, seja o melhor de si mesmo neste exato momento.
______________________________________
Separação, dezembro 2012 (revisado em 2014)
Monge Kōmyō