O mundo da perambulação

O mundo da perambulação

(Palestra em Goiânia)
Tathagata,  é um dos nomes de Buda. Significa aquele que assim como vai, assim ele vem. Isso tem um significado para nós meditarmos, porque nós vivemos em mundos de perambulação, em que estamos continuamente alterando a nós mesmos. Nós mesmos nos alteramos internamente e os mundos em volta se alteram junto conosco. Chamamos o perambular, o mundo da perambulação de samsara, o mundo do samsara.
O que caracteriza o mundo do samsara é a procura incessante. Nós queremos achar algo que nos falte. Na verdade, nós todos estamos aqui porque vivemos no mundo do samsara, senão, não iríamos ouvir uma palestra. Se tudo estivesse perfeito, completamente perfeito, não tinha porque ouvir uma palestra. Temos que nos conscientizar – ah, eu vivo no mundo da perambulação. Nós perambulamos procurando felicidades, vamos a uma banca de revista e vemos a revista dos “felizes”.  As pessoas vão lá, lêem esse tipo de revista sobre famosos, que têm dinheiro, vivem em ilhas, têm iates ou qualquer coisa assim, achando que a felicidade é alcançada através da prosperidade, que vão alcançar a felicidade através de ter coisas. Mas isto é o próprio mundo do Samsara. Perambulo atrás de uma coisa a mais. Aquela coisa que vejo não é suficiente. Então procuro aquela outra coisa.
Qualquer pessoa que está nesse mundo de perambulação olha em volta e se compara com os que estão em volta. Os que estão na favela olham em volta e vêem os outros da favela. E ele vai se sentir próspero, vai se sentir melhor se tiver mais do que o vizinho. Então compra uma televisão melhor do que a do outro, assim então ele acha que se destacou do grupo. Só que se ele continua crescendo e sai da favela, tem outro grupo, outro grupo e outro grupo.
Uma vez tive a oportunidade de passar em Mônaco. Mônaco tem um porto e nesse porto estão estacionados iates. Mas quem tem um iate de 15 metros é um pobretão, coitado dele. O cara não é ninguém, tem apenas um iate de 15 metros. Ao lado há um iate de um sheik de 150 metros, 3 vezes maior, muito mais alto, com torneiras de ouro. Ele se vê pequeno no mundo da comparação. Então o que acontece quando vemos essas revistas por onde comecei, é que as pessoas olham para a revista para se comparar. Elas olham e vêem a comparação. Olham e imaginam que existe um outro mundo. Um mundo mais abundante do que o seu mundo próprio. E atrás de coisas materiais as pessoas fazem isso. Mas as pessoas fazem isso em outras áreas também.
As pessoas dizem – ah se eu tivesse um amor. A pessoa perambula de amor em amor. Este amor não deu certo, esse não é suficiente, essa pessoa não tem tudo que eu queria. Tem falhas nessa pessoa. Aí ela vai  para outra, outra pessoa, outra pessoa. Isto é também um perambular. Perambula achando que logo a seguir vai achar. É como se andasse sem rumo num mundo de um lado para o outro, procurando algo que fosse, enfim, o satisfatório. Agora o que o mundo do samsara ensina para nós é que não existe na verdade o satisfatório. Foi isso que Buda ensinou. Essa é a primeira nobre verdade, não existe o satisfatório. O satisfatório é inalcançável, pois a característica da vida é Dukkha, é ser insatisfatória. (continua)