Aluno: Precisamos praticar até o carma perder força?
Monge Genshô: Até o carma se extinguir. Mas como você continua agindo, você cria carma novo. Como você tem um padrão de hábito de manifestar, de fazer coisas, você sempre renova seu carma. Se fizer mais coisas, mais forte carma. Se fizer coisas ruins, mau carma. Se fizer coisas boas, bom carma. Depende do que você cultiva, se o bem ou o mal. Para agir sem gerar carma precisamos nos desfazer de um eu ao qual ele possa aderir, agir sem intenção egóica.
Aluno: Mas não deixa de ser carma?
Monge Genshô: Carma é carma. Pode ser bom ou ruim. Mas o que a gente tem que entender é que nós não somos eus carregando uma mochila de carma nas costas. Nós somos produto do carma, e quem maneja e faz o carma continuamente somos nós, com as nossas ações. Quando vocês vêm aqui para ouvir essa palestra, vocês estão produzindo carma. Esse carma vai produzir vipaka, frutos. Amanhã vocês vão pensar nessa palestra – ah, eu aprendi isso ontem ou pelo menos aprendi o ponto de vista do budismo a respeito disso. Então vai haver um efeito da ação de terem vindo aqui e isto é vipaka, fruto da ação. Normalmente quando as pessoas dizem assim – ah, isso é o meu carma, por isso está acontecendo isso e isso – se referem a carma vipaka. É fruto de um carma. Mas na nossa linguagem acabamos usando carma para esse conceito. Então está mais ou menos estabelecido que quando alguém diz assim – esse é o meu carma – na verdade fala do efeito de uma ação anterior que está se manifestando agora. Se estivesse falando em sânscrito deveria dizer, “esse é o meu carma vipaka, fruto da minha ação anterior”. Olhe a diferença de consciência em dizer – “que carma horrível, pois está acontecendo isso etc”. Ou a pessoa dizer assim – “Que fruto das minhas ações estou sofrendo agora? Fiz coisas no passado para isso”. Atirei pedra na cruz tem mais sentido que encarar como um destino inelutável.