Aluno: O eterno é só o vazio mesmo?
Monge Genshô: O que é o vazio?
Aluno: Na verdade é mais fácil perguntar o que não é o vazio, o universo, nós somos todos manifestações do vazio, certo?
Monge Genshô: Não, nós não somos manifestações do vazio.
Aluno: Da forma que o vazio tomou…
Monge Genshô: O vazio não tomou uma forma, ele não é uma coisa.
Aluno: É difícil explicar.
Monge Genshô: Nós usamos o termo “vazio”, que vem de “shunya”. Esse é um erro constante, de nós transformarmos o vazio em algo. O que eu disse foi: o armário é vazio de um “eu armário”. Na realidade ele é um conjunto de agregados, quando nós dizemos “armário”, eu estou atribuindo um “eu” a ele. Neste momento, um estado, mas quando eu digo “Zuleica”, estou atribuindo a ela uma identidade, mas na realidade Zuleica é vazia de um “eu”, assim como o armário também é vazio de um eu. Todas as coisas são vazias de um “eu” inerente. Esse “eu” é só um atributo que nós damos para poder lidar com as coisas, para poder entender.
Um carro anda, funciona, ronrona, faz som, consome gasolina, não é? Sai da fábrica, nasce, morre, enferruja, é transformado. Damos até um nome pro carro, não damos? Tem gente que fica triste quando o carro estraga, mas na verdade o carro é uma soma de agregados, de peças às quais, juntas, arrumadas de determinada forma, nós chamamos de carro. Mas um carro é vazio de um “eu”. Nós damos um número a ele, colocamos um chassi, registramos, damos documento pra ele, não é? A certidão do carro. Mas ele é vazio de um eu, assim como nós também somos vazios de um eu. Mas usamos um eu para andar no mundo.
Então, todas essas formas são vazias de um eu. Isso é que é o vazio. Então o vazio são as próprias formas e as formas são todas vazias. De que? De um “EU”. Assim, o vazio não é uma coisa, nada brota de uma coisa chamada vazio. Vazio não é a descrição de uma divindade ou coisa assim. Aliás, no budismo, como nós sabemos, não existem divindades. Vocês podem achar textos que dizem “os deuses”, mas os deuses o que são? Manifestações cármicas de um nível melhor, mas também decaem e morrem. Alguns são tão poderosos, sábios etc e tal, tão orgulhosos, que acreditam que criaram o mundo.