No Zen nos colocamos de determinada maneira, sempre falamos com os outros de forma respeitosa. Na sangha nós tratamos os outros sempre de Senhor, Senhora, nós não olhamos para as pessoas e dizemos “tu aí”, e também na sangha nós não fazemos brincadeiras “zoando” ou ridicularizando os outros. Se temos dúvida sobre o que dizer, nós fechamos a boca porque é muito melhor ficar de boca fechada do que dizer tolices só pra encher o tempo. Então nosso comportamento na sangha é assim e tentamos leva-lo para nossa vida diária.
A educação no Zen é muito diferente daquilo que nós estamos acostumados na vida. No entanto eu me atreveria a dizer que se as pessoas começassem a se comportar dessa forma, muitos problemas seriam evitados. Talvez a sociedade que foi mais influenciada pelo Zen tenha sido a sociedade japonesa, porque durante alguns séculos os imperadores, os shoguns, foram budistas e a sociedade foi de certa maneira forçada a ter uma determinada educação de responsabilidade social e de comportamento respeitosa.
Eu sempre fico muito bem impressionado quando recebo um monge com educação em um mosteiro Zen porque você recebe aquela visita em casa e invariavelmente, ao acabar a refeição, todo o mundo vai para a cozinha para limpar tudo, ajudar, etc. E quando a visita sai, está tudo arrumado, dobrado, o quarto está limpo porque eles se preocupam em limpar tudo. Então é o hóspede perfeito. Um monge budista, quando a gente o recebe em casa, nunca senta na sala para ver televisão, nunca faz isso, ele age de uma maneira exagerada até, ele vai para o seu quarto e abre um livro para ler, estudar, ou senta para meditar. Acontece que, com esse respeito, há muito menos atritos.
Então quando levantamos do zendô afofamos as almofadas cuidadosamente, alinhadas e com a faixa branca voltada para o centro, porque quando nós chegamos estava arrumado, então nós temos que deixar arrumado. E quando fazemos cerimônia, tudo o que estamos recitando tem um sentido.
Hoje nós recitamos 16 preceitos, que são os que tomam as pessoas que fazem o rakusu. Prestem atenção nos preceitos. Eu me comprometo a evitar o mal, fazer o bem, a salvar todos os seres sencientes, a evitar causar sofrimento, matar, a evitar ficar com qualquer coisa que não me foi dada espontaneamente. Não é estritamente “não roubar”. É não ficar com alguma coisa que não me tenha sido dada espontaneamente. No Japão, se alguém perde uma coisa, a gente não recolhe, nem num templo Zen. Se alguma coisa foi perdida, deixada num lugar, esquecida, a gente deixa lá naquele lugar, porque o dono vai voltar para procurar, não precisa guardar porque ninguém vai roubar. Então muitos detalhes de educação podem ser criados, as coisas vão ficar imaculadamente limpas se todo mundo usar e limpar, se houver um respeito contínuo com os outros. Nós temos que pensar sempre no trabalho que nós damos na vida para os outros. Isso é a educação do zen.