Aluno: Sensei, eu sinto momentos de muita angústia pensando nos meus filhos (durante o sesshin). Existe solução para o apego entre pais e filhos?
Monge Genshô: Nós seres humanos queremos nos conectar com a eternidade e a nossa compreensão é que os filhos fazem essa ligação. No fundo o apego com os filhos vem de um amor ao eu. A ideia é: “eu quero permanecer, mas eu sei que este corpo vai morrer, então eu olho para o filho como minha ligação com a eternidade”. Disso surge uma diferença importante entre homens e mulheres. Através do tempo eu tenho notado que os homens são mais angustiados e as mulheres menos, porque por uma condição biológica as mulheres se sentem mais ligadas à vida. Na verdade, biologicamente acontece o contrário das lendas, não é a mulher que saiu da costela de Adão, nós homens é que viemos depois, porque a separação dos sexos acontece depois na biologia. Primeiro há um ser único e depois ocorre a separação para ter um ser que faça a fecundação, ou seja, um macho, mas ele sai da fêmea, então é ela quem representa a espécie. Além disso, como o filho nasce da fêmea, ela o sente como dela. O homem não sabe, ele foi informado, alguém diz “esse filho é seu” e você acredita. Então a realização do filho no homem é intelectual e na mulher é física. Vemos homens desesperados querendo escrever sinfonias, livros e realizar grandes obras porque tentam se eternizar de alguma forma, na verdade essa busca vem do medo do desaparecimento. As mulheres não sentem tanto isso, mesmo quando não têm filhos elas ainda se sentem mais ligadas à vida pela sua natureza.
Esse esforço dos homens explica de certa forma a angústia criadora, que também é medo do desaparecimento. Então essa ligação com os filhos é a manifestação do nosso desejo de permanência, por isso às vezes é tão difícil abrir as mãos e deixar os filhos seguirem seus próprios caminhos. Muitas vezes os pais querem que os filhos sejam aquilo que eles são e isso é um grave erro. Só uma ampliação de consciência pode aliviar esse tipo de angústia. Se você se ilumina e desperta das desilusões do eu isso também desaparece. Mas por outro lado que bom que existe amor, que existe sexo, que existem filhos, porque são partes integrantes da vida. Se você perguntasse qual é o sentido da vida eu responderia que é justamente viver. E viver também é sofrer, se você dedica amor, tem que aceitar a perda, você só precisa se dar conta de que o preço é o sofrimento. É natural que existam as preocupações e os medos, mas tudo isso é o preço que se paga. Tem alguma maneira de viver sem isso? Não. Nós temos sangha e na medida em que você conhece, conversa e entrevista as pessoas, também vai criando amor por elas. De repente um fica doente, outro sofre uma tragédia e tudo isso vem para você também, mas esse é o preço. Se você não quiser nenhum sofrimento tem que se isolar numa montanha e não ter relação com nada.
Existe uma anedota Zen em que um Monge estava numa montanha e sentiu que estava iluminado. Então ele resolveu descer até a cidade e entrou no mercado. Nesse momento alguém pisou no pé dele, ele sentiu raiva e percebeu que a sua iluminação era pura ilusão. Então só é possível dentro da turbulência da vida você acordar. O que você prefere: ter amor e sofrimento ou não ter amor nenhum? É isso.