Monge Genshô: O latido dos cachorros é a voz de Buda. Todos os sons são a voz de Buda. São manifestações possíveis dentro deste universo. Quando dizemos ‘a voz de Buda’ estamos dizendo a palavra Buda num conceito diferente, muito abrangente. É o grande ser, que é o universo inteiro, a vacuidade, tudo aquilo que se manifesta como forma. Ora, os cães, os latidos dos cães, são forma. Os cães são forma, o latido dos cães são forma. A questão, no fundo, é: por que nós não ouvimos os sons de Buda? Por que nós não ouvimos a voz do grande ser? Por que não ouvimos essa voz? Não ouvimos essa voz porque nossa mente não para e está perdida no redemoinho da sua própria manifestação.
Redemoinho é uma excelente metáfora. Ela me ocorreu um dia por causa do seu eixo. Imaginem um redemoinho girando. Ele é movimento. E esse movimento de ar suga poeira do solo e outras coisas e assim ele se torna visível. E você vê o redemoinho no ar, e o redemoinho tem um eixo. Todos os redemoinhos têm um eixo. Os furacões são nada mais do que grandes redemoinhos, e têm um eixo, o olho do furacão. E tudo gira em volta daquele eixo. Esse eixo é uma aparência, só é visível porque tem coisas girando em volta. O eixo em si, ele por si mesmo, não existe, ele é vazio, vazio de existência própria, ele não tem um eu inerente, o eixo do redemoinho não pode dizer ‘eu sou’ o redemoinho. Ele não pode dizer isso. Alguém pode perguntar ‘o eixo existe ou não existe?’. Ele existe. Mas também não existe, por não ter existência própria. Na verdade, cada um de nós é como um redemoinho.(continua)