(Continuação)
O aprisionamento é essa repetição. Você está condenado a repetir. Você está aqui, agora: vem, nasce de novo, aprende a ler; leva cascudo dos colegas mais fortes, castigo dos pais. Só carrega consigo os seus impulsos básicos, a sua personalidade. Mas não tem memória, não tem identidade, nem nada. Cria uma nova identidade, vai, transita por toda uma vida, faz carma de novo, ações boas, ruins, reforça sua própria personalidade. Ou até vai a um terapeuta: “não, vamos estruturar melhor o seu ego, para você ser mais forte.”, e, então, vem e repete.
E esse negócio de repetir vidas, se nós tivéssemos memória, estaríamos muito, muito cansados. Olharíamos para trás, mil vidas! Milhares de amores, de perdas, de sofrimentos, de tragédias, tudo o mais. Seria esmagador se tudo estivesse presente na nossa mente agora. Então, na verdade, nós estamos condenados a repetir porque não resolvemos o nosso carma. A iluminação de Buda, aquela que o sutra diz: “san myaku san bodai”, esse trecho significa “iluminação completa, perfeita e universal”. Ao atingir isso, você enfraqueceu tanto o seu carma que ele não tem energia, no caso de Buda, para repetir uma manifestação. E isso é a verdadeira libertação.
Então, a libertação no budismo não é a permanência do “eu”, e sim livrar-se dele – o que é completamente diferente das religiões que propõem uma salvação, uma continuação para sempre.