O circuito que culmina no sofrimento é alimentado primordialmente pelo fato de que, em regra, ignora-se como as coisas funcionam. Peguemos qualquer parte do caminho óctuplo, dos preceitos: meio de vida correto. Se você tiver um meio de vida incorreto e, por exemplo, viver roubando, terá medo de ser pego, experimentará a insegurança, vai cavar vinganças da sociedade ou dos indivíduos prejudicados por você, e isso vai causar sofrimento. É a questão do meio de vida correto, não é?
Concluímos, então e por exemplo, que o administrador público que desvia dinheiro para o próprio bolso, do ponto de vista budista, trilha um caminho de grandes sofrimentos futuros. A ética do budismo, portanto, é construída assim.
Frequentemente, quando explicamos que não tem um deus, não tem uma alma, o sujeito diz assim: “então eu posso fazer qualquer coisa porque não tem consequência, não é?”. Mas não é verdade, porque as consequências são os resultados do próprio carma. Mas por que alguém agiria assim? Por que alguém age errado? Em primeiro lugar porque há a ignorância. Ele não compreende como o carma funciona e isso origina o segundo passo.
Porque existe ignorância, existe comportamento cármico que gera movimento, que gera o surgimento das próprias manifestações. Em última análise, se eu extinguisse todo o movimento cármico, não haveria geração de novas identidades. Então, no fundo, o que o budismo está dizendo é que estar aqui é uma espécie de castigo: porque você gerou carma no passado, carma de desejo, de apego, etc., por ignorar como as coisas funcionam direito, você acumulou carma que gera a manifestação que você é.