Finitude e Crença (parte 1)

Finitude e Crença (parte 1)

A humanidade nunca se sentiu satisfeita com o fato de ter conhecido sua finitude. De repente os homens deram-se conta com clareza do fato de que a vida termina em velhice, doença e morte. 

Essa consciência fez com que os homens criassem mitos para tentar se livrar do sofrimento inerente à consciência de sua finitude. Esses mitos dividem-se em diferentes formas: a mais frequente e inicial foi conseguir criar na imaginação seres sobrenaturais que fossem capazes de interferir e nos proteger. Então, os povos individualmente foram criando seus mitos, seus deuses. Deuses da montanha, deuses da floresta, deuses da chuva… Só que esses deuses, com o tempo, tornaram-se, na crença humana, deuses intermediários, que às vezes conseguiam interferir e outras não; às vezes atendiam aos sacrifícios humanos ou às solicitações humanas, às vezes falhavam. E para as falhas os sacerdotes tinham que achar explicações convenientes.

Então, era necessário que existisse algo acima desses deuses. Esse Deus superior, digamos, teria que obviamente ser um deus não interferente, que não tivesse preferências, interesses pessoais ou inclinações: “os outros deuses têm inclinações, mas o deus da nossa tribo é talvez mais forte que o deus da outra tribo”. 

Então, esse Deus superior era o destino, e não como os deuses do Olimpo, os deuses que interferiam no mundo que tinham inclinações, preferências e paixões. Esses deuses não poderiam interferir no destino.

Os hindus tinham a imagem de Atman, alma universal, que estava presente em todos os seres mas que também não tinha preferências. Então, ficamos com dois tipos de deuses, os deuses locais, interferentes, e um deus superior, não interferente.