Logo depois que compreendemos essa estrutura humana, ou seja, como os humanos criaram as suas crenças e justificações, nós podemos examinar também as religiões que descartaram o sobrenatural, e delas só sobreviveu mesmo o budismo.
No budismo, a ética é construída pela ideia de carma: toda ação tem uma consequência; todo efeito tem uma causa; se isso acontece, é porque aquilo aconteceu; se isso acontece com você, há uma causa. Isso leva a pensamentos até difíceis, a exemplo de alguém que nasce com uma doença. É uma criança, parece inocente, e a ideia de carma diz que, na verdade, existe uma causa para isso, uma causa pregressa. Sendo uma causa anterior, porque não existe efeito sem causa, esta pessoa está sofrendo, mas é, em certa medida, seu carma, porque ela mesma, em outras vidas, fez por onde acontecer essa tragédia presente em sua vida atual.
Há um episódio em um sutra em que Buda diz: “tenho dor de cabeça”. E alguém, então, pergunta: “como é que o senhor, um ser iluminado, tem dor de cabeça?”, do que ele responde: “é que, em uma vida passada, eu matei um peixe, e, por causa disso, agora eu tenho dor de cabeça”.