Aluno: Mas o budismo é religião ou filosofia ?
Monge:Nós queremos sempre colocar as pessoas em escaninhos porque não entendemos. Então nós queremos colocar o budismo na prateleira da religião ou na prateleira da filosofia ou na prateleira de alguma coisa. Aí o budismo não se encaixa muito bem, porque na prateleira da religião, o budismo tem muitos aspectos, formas religiosas, métodos religiosos. Mas ele não se baseia em crenças, em fé, em coisas assim. Então faltam algumas coisas que caracterizam as religiões. No caso das filosofias também acontece a mesma coisa. Se você quiser como um método filosófico, não vai caber bem.
Edward Conze, que escreveu uma história do budismo, descreveu-o como um pragmatismo dialético de métodos psicológicos. Então ele tem isso, é prático. Tem o diálogo para o ensinamento. Você pode até contestar o professor e ele vai ter que usar argumentos para mostrar seu ponto. Ou seja, não está baseado numa fé ou em mestres infalíveis. E seus métodos – o Zazen, por exemplo, é um método psicológico. Não é mais do que isso. É uma metodologia de atingir a mente. E há um objetivo espiritual muito elevado, que é a iluminação, que foi desenvolvido desde o tempo de Buda. Este objetivo retira o budismo que tenha este objetivo do terreno das terapias. Então, se você usa a meditação como um método terapêutico, tudo bem. Ela pode ser usada como método terapêutico, mas não é budismo, porque o foco do budismo é outra coisa; é muito mais do que serenizar, acalmar ou ganhar clareza. É muito mais do que isso. É propiciar uma experiência religiosa, espiritual muito profunda. Mas do outro lado você está tirando todos os deuses, todas as almas, todos os espíritos. Conceitos como reencarnação são retirados. Isso não é o método. Pelo menos não no Zen. E isso então muda tudo.
[N.E.: transcrição de trecho de palestra realizada pelo Monge Genshô Sensei]