A iluminação é possível agora, e nela não há nenhuma sensação de sofrimento. Contudo, enquanto você ambicionar continuidades, haverá angústia e sofrimento, haverá ambições, coisas que você quer agregar a si mesmo. Isso acontece até para os santos. Os santos são uma maravilhosa tradição espiritual, tão perdida às vezes, porque só olhamos as crenças e não vemos a grande tradição por trás, porque não lemos sobre ela, mas existe uma grande e profunda tradição. Mas mesmo assim, essa tradição tem como seu mais alto objetivo a formação de um indivíduo que é santo, que é puro, que deixou Deus se manifestar dentro dele, que abdicou de si mesmo para ser ele mesmo o habitáculo divino. Nesta imagem ainda restou individualidade, então o santo sofre, pois deseja sua pureza para ser o habitáculo correto da divindade. Ele obtém um grau de espiritualidade muito alto, sem dúvida, mas esse não é o objetivo do Zen. O Zen não quer fazer santos, não quer fazer pessoas que lutam constantemente para esmagar a si mesmos e suas paixões, seus desejos, que veem a continuidade da existência como indivíduo, ainda separado, como um objetivo. Só aquele que esqueceu de si mesmo e tornou-se ele próprio uno com a divindade fica próximo do objetivo do Zen.
[Trecho extraído de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]