Mas mesmo que nós façamos um esforço para ensinar um zen puro, nós estamos carregando características que vieram do budismo através dos templos do budismo japonês, do budismo chinês. Até as roupas que eu estou vestindo são assim. O juban é japonês. O kimono é japonês. O koromo é chinês. E esse aqui é o único do tempo de Buda, o kesa, o manto, que é da Índia. Todos os outros são acréscimos posteriores porque era muito frio. Porque na China eles usavam koromo, mas os japoneses não colocavam o koromo sobre o corpo, então tem roupas embaixo. O kimono, uma roupa mais íntima, que é essa que a gente vê embaixo do koromo, esta colorida. E juban vem de uma palavra portuguesa, gibão, que era uma roupa que os portugueses usavam lá por 1600. Está vendo? Estou vestido de história, de cultura. E agora quando chegamos aqui no Brasil e quando chega no verão a gente diz o quê?
Aluna: Liga o ar-condicionado [risos].
Monge: Será que não dá para voltar para o sistema indiano e usar só o kesa por cima do corpo? Como os monges Theravada. Na Tailândia, no Sri Lanka, eles usam só o manto. Então nós estamos carregando história junto, mas nós não temos coragem de jogar fora as coisas apressadamente, porque corremos o risco de jogar fora a criança junto com a água do banho. Então nós temos de ser muito cuidadosos nas mudanças culturais. Nós já estamos fazendo grandes revoluções aqui. No Japão, isto ainda não aconteceu. O Centro de Dharma para os leigos com ensinamentos que só são dados para os monges. Isto aqui é uma manifestação do budismo ocidental. Nós não estamos enxergando, mas não é aquele budismo que você vai ver lá no oriente. Não é assim, de irmos para o oriente e ficarmos maravilhados. É o contrário. Eles que vêm aqui e dizem “Ah, que maravilha o budismo aqui”.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]