O Sutra do Coração está falando acerca do ensinamento absoluto: quando não há o outro, não há caminho para a extinção do sofrimento, nada disso existe. Todo ensinamento dual foi apenas um método para se chegar a um outro nível. Primeiro damos preceitos e dizemos que vocês devem cumpri-los, devem fazer os oryokis, devem escutar, mas esse é apenas um método, é como se você estivesse lidando com uma criança no Dharma, que sabe muito pouco. Então não adianta você ficar tentando teorizar, da mesma forma que não adianta sentar alguém em frente a um piano e dizer que tal tecla é uma sequência de 440 vibrações por segundo e começar a dar explicações de física para um aluno que tem 4 anos de idade. O que você faz é pedir para que ele aperte uma tecla e diz: “isso é La”, etc.
Num segundo nível de ensinamento, nós damos preceitos que dizem coisas como: não mate, não cause sofrimento a outras pessoas, não julgue, etc. Uma vez eu tive uma discussão, muitos anos atrás, com um professor budista que disse que não se pode mentir em caso algum e eu disse que essa declaração podia causar uma tragédia.
Se aparece um assassino aqui querendo matar a Kyo Hô, ela está escondida e ele pergunta “onde está Kyo Hô?”, nós não vamos dizer, vamos dizer uma mentira para salvá-la. Então a visão de que só pode se dizer a verdade o tempo todo é uma visão estreita do ensinamento, é uma visão fundamentalista, e também existem fundamentalistas no budismo, pessoas que discutem traduções à risca, por exemplo, desde o sânscrito.