O segundo mundo é o mundo dos fantasmas famintos. Os fantasmas famintos são aqueles que têm grandes estômagos e pescoços muito finos, e por isso não conseguem nunca ficar satisfeitos. Nós encontramos muito essa situação no nosso mundo. Vemos, por exemplo, muitas notícias de gente morrendo nos hospitais, porque o dinheiro que deveria estar sendo aplicado ali para ajudar foi desviado para uma conta na Suíça. E a gente pergunta para essas pessoas que desviam: “o que você vai fazer com 200 milhões?”, e eles dizem: “Não sei, mas eu quero mais 100”. Então são pessoas que estão sempre querendo mais e mais, sem fim. “Eu vou roubar, eu vou desviar, pode ser para mim, para o meu partido, para o meu projeto de poder, tudo mais, mas eu vou roubar, desviar, essa é a minha visão de mundo, uma visão insaciável. E não importa que falte aos outros, eu vou desviar para o meu poder. Ele vai querer sempre voltar, e nunca será satisfeito com o poder, com o prolongamento do poder. Se for possível vai ficar 50 anos, como alguns ditadores já ficaram por aí, 50 anos no poder, “não importa os outros, é isso que quero” – esse é o pensamento de um fantasma faminto, nada, nunca, é suficiente.
Nós perguntamos para as pessoas assim: “quanto você precisaria ganhar para ficar satisfeito, parar de trabalhar e viver de renda para o resto da vida?”. Fazendo essa pergunta nós vamos chegar à seguinte conclusão: depende do patamar em que você chegou. Quanto mais alto o patamar, mais você quer, porque ninguém quer reduzir, as pessoas querem sempre mais.
Então, à medida que você tem mais projetos, tem determinado padrão, você precisa de mais, ninguém quer menos. Só que nós perguntamos para qualquer grupo de pessoas: de quanto vocês precisam? Eles vão dizer: dois milhões, três milhões, cinco milhões… Mas se você reunir um grupo de empresários e perguntar vinte anos depois, verá que eles ganharam muito mais do que isso e não pararam de trabalhar. Então você pergunta: “por que você não parou? Se era esse o padrão que você queria, por que quando você chega nele não para?”. Por que o político toma o poder e quer voltar ao poder? Por que quem é ditador não larga, fica cinquenta anos? Por que não se tem um limite para o que se quer com roubar e desviar? Porque todos são fantasmas famintos, e essa é a característica da mente do fantasma faminto.
Na realidade, hoje, vivo com muito menos do que quando eu era diretor de empresa grande. Só que era louco, porque trabalhava de manhã, de tarde e de noite, almoçava no trabalho, jantava no jantar de negócios, fazia duzentas viagens de avião por ano. Você pode reduzir o seu nível de ambição, não precisa ser um fantasma faminto. Na época eu não pensava, fazia tudo isso para ganhar dinheiro, mas hoje vejo que fazia isso porque estava no jogo. E o jogo implicava nisso: novo cargo, nova empresa, novo projeto, nova realização, etc. – só jogava. O dinheiro era epifenômeno, uma coisa que vem amarrada na sequência daquilo que você está fazendo.
(Continua)
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]