(…)A nossa conversa é sobre marca cármica. E sobre o fato de que nós vivemos vidas que em grande parte são repetições, porque nós trazemos marcas cármicas do passado. Nós podemos mudar essas marcas cármicas se quisermos, mas dá trabalho. É possível mudar suas marcas cármicas e mudar suas vidas posteriores, como também é possível piorar bastante. Sem dúvida.
Mas vitória de Buda não é melhorar seu carma e sim eliminá-lo. A vitória é desmobilizar o carma a tal ponto que não sobre energia para se manifestar nesse tipo de mundo novamente. Porque o entendimento é que estar aqui neste mundo não é vantagem. Estar aqui na verdade é uma espécie de aprisionamento que nós nos metemos. Um aprisionamento de repetições. Se nós tivéssemos consciência das repetições nós ficaríamos desesperados, porque de novo, de novo, sempre a mesma coisa e é péssimo.
Fico pensando, vou morrer! E isso não vai levar muito tempo porque já estou com 70 anos. Então, vou nascer de novo, vou ter que ir para o colégio, levar cascudo dos amigos, dos colegas mais velhos, aprender matemática de novo, fazer tudo de novo…
Pergunta: E onde vamos cair nesse caso de chegarmos ao ponto de Buda?
Genshō Sensei: No ponto de manifestação nenhuma, porque terá extinguido o seu carma, extinguido seus aprisionamentos que não precisarão manifestar-se novamente. Mas você só vai ver isso, como algo bom se você esquecer seu eu. Quem tem seu eu, e ama seu eu, quer a permanência dele. Então, quer viver de novo, quer conservar uma alma para nascer num corpo novo e quer repetir o aprisionamento que está institucionalizado.
Já viram aquele tipo de criminoso que saí da cadeia e comete outro crime para voltar para a cadeia? A cadeia é o mundo dele. Lá ele sabe como as coisas funcionam muito bem, é um aprisionamento institucionalizado. Buda livrou-se da obrigação de repetir porque esqueceu do eu. Enquanto você quer repetir, porque você ama seu eu.
Na maior parte das religiões você está sempre tentando continuar com seu eu. Por isso, as ideias de alma e de espírito onde você coloca seu eu e continua eterno, sempre se manifestando. Essa é a maravilha de se ter um eu que sempre se repete. Mas para o budismo é diferente.
Esse tipo de assunto é realmente para um nível alto de compreensão. Não é para o público geral, que quer falar sobre coisas da vida, sobre como viver melhor nesse mundo, porque não quer sair daqui. Neste momento estamos falando como sair daqui, e sair daqui implica em eliminar seu carma. Em transformar seu carma em um carma tão bom, tão fraco que não se manifestará de novo. Isso significa amar seu eu próprio, não significa eliminar seu eu. Porque para viver neste mundo é necessário ter um eu, a diferença é não estar focado nele. E essa é a vitória de Buda.(…)
Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, 31/05/2018.